Ela acordou de sobressalto, com o coração pulsando no peito. Havia sonhado com ele, mais uma vez. E mesmo que tenha demorado segundos para saber onde estava, sabia claramente o que sentia. Não queria, mas estava vivo, era latente. Era saudade que ecoava inquieta, bicho feroz.
O sonho foi mais um devaneio que deixou lembranças. Ou as trouxe à tona? Naquela noite, eram novamente carinho, amor forte presente. Eram olho no olho, cumplicidade que despia a alma. Estavam nus, mesmo que as roupas ainda se fizessem presentes. Eram entrega, companheirismo. Eram o mundo, mesmo que esse tivesse o tamanho de um minúsculo quarto cercado por quatro paredes. O relógio fora novamente silenciado por tudo que disseram um ao outro, embora não tenham trocado uma palavra sequer. Fizeram sua dança, aquela que só eles sabiam os passos. Sem julgamentos se embalaram, em um misto de consolo e revigor. Reinventaram-se.
Mas precisaram ir. Como todas as vezes. Partiram o abraço, cada um com sua metade. Sem mais dois para lá, dois para cá. Era hora de um para cada lado. E olhe lá. Juntos e separados. Distantes, mas um dentro do outro. Como sempre foi, como um dia ela quis que fosse, como eles já não são mais. Nós desfeitos, laços feitos. Foram. E tudo deles ficou.