Merda!

Possibilidades. O mundo é cheio delas e cada um de nós carrega um bocado dentro do coração, escondidas nas cortinas dos olhos, lá nas coxias, onde nenhum espectador consegue enxergar. São nossos sonhos mais ocultos, nossos dramas obscuros. É o tão vislumbrado espetáculo particular, aquele que todos os dias ensaiamos viver, tornar público, mas que sempre adiamos a estréia. Não é simples descortinar a alma e revelar todos os bastidores da grande cena teatral que é nossa vida. Nos tempos atuais em que o palco principal são as redes sociais, o medo da crítica sempre nos paralisa, talvez mais do que a falta de público, nos faz duvidar de que está bom o bastante para ser colocado em prática. Em meio a esquetes perfeitos, o nosso parece tão amador. Sufocamos nossos anseios. Ou melhor, os editamos. Mudamos o tom, tentamos encaixar no que se espera de nós, transformamos o drama em comédia, o choro em risos e vice versa. Ainda assim, o verso raramente sai, fica preso no peito, esperando o clímax perfeito, que não acontece nunca. Que não vai acontecer, enquanto o “foda-se” que tanto lemos não for efetivamente ligado, enquanto a coragem não chegar e todo fôlego não for colocado em cena. Encena! Inaugura, estréia, se lança ao improviso do show que é o viver. Troca o proibido pela possibilidade e faz acontecer. Abre as cortinas do coração e mergulha nos desafios. Coloca os sonhos em prática e paga para ver. Em 2019, desejo “MERDA” para todos nós! (Calma! No teatro, dizer boa sorte antes de entrar em cena não é legal. O certo mesmo é dizer um “MERDA”, com a boca bem cheia, esvaziando os pulmões e inundando os atores de boas vibrações, igualzinho a esse que escrevi.)