Foi em uma terça feira, por volta de meio dia, bem ali naquela hora que o sol bate em cima da cabeça e parece fritar os miolos. Apesar de todo calor e luz, algo ficou nublado para mim. Foi quando vi o menino, na ocasião já moço formado, arrastar rodinhas em forma de mala, levando dentro um tantinho de roupas e um bocado de interrogações. Os olhos negros dele refletiam um vermelho irritadiço. Tais quais os meus. Enquanto ele saía com um sorriso amarelo, o meu esvaia e escorria em forma de lágrimas vindas lá de dentro do coração. Havia cores na cena, embora nenhuma tenha sido capaz de colorir o dia, que passou a se arrastar. Da minha boca pálida anseios de boa sorte e orgulho saíram para ofuscar o que o coração parecia gritar. Pela primeira vez entendi o que era saudade, dessa antecipada do que não será vivido junto, que escoa pelos poros e que não cura com um próximo encontro, mas que acompanha o desenrolar da vida e se acalma com as conquistas. Que martela, feito a tal dor que desatina sem doer.
Foi em uma terça feira, por volta de meio dia, o momento que vi meu irmão, meu herói da infância sair, subir em seu cavalo moderno e partir. Foi ser homem grande, doutor com diploma na mão, no único lugar e com a única que poderia ouvir seus lamúrios de quando bate aquela saudade. Do pouso em outra cidade, juntou gravetos e ajeitou o ninho, fez passarinhos. Multiplicou pelas bandas de lá, tal qual espichei de cá meus capítulos.
Foi em uma terça ou outra feira qualquer. E sempre será. Quando o peito já não consegue aguentar, nos encontramos para revoadas felizes, entregamos todos os beijos que guardamos e enfim relembramos que sempre existe um mesmo céu para amar.